quarta-feira, maio 30, 2007

Tanto tempo de joelhos

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Tinha chegado a noite,
era enorme e tinha corpos mudos
e vozes
como pedras desabadas de repente.
Sons irreparáveis.

Certos passos na escada permanecem,
mas era Inverno quando veio o medo
e o teu colo carregou-se de nuvens.
Era tarde,
estava tudo dito
e no entanto
eu queria olhar para o teu rosto
pela última vez.

Um dia hei-de guardar-te nos meus ombros
e cobrir de pétalas os teus caminhos,
tanto tempo de joelhos morrerei.


#17. Thomas Joshua Cooper, fragmento de fotografia.

domingo, maio 06, 2007

É este o dia

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É este o dia
para recordar os caminhos
que percorreste até à minha porta.
Desses caminhos
e do manto que teceste,
o manto em que guardavas a memória,
resta a luz das praias no inverno
e algumas pedras cobertas de musgo.
Resta a tua voz no princípio da terra,
os muros altos dos antepassados,
um leve bater de asas.


#16. Piero della Francesca, fragmento de pintura.