quinta-feira, agosto 23, 2007

Manhã

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A manhã acorda o rio,
atravessa as ruas todas da cidade,
abre as janelas da casa entorpecida,
fecha a noite. Uns grãos de areia
e eu tenho uma praia, ou uma estrada,
para deixar passar as tuas mãos sobre o meu peito.

Digo para mim,
vou descer as falésias no brilho dos teus olhos
como se a manhã nascesse nos teus olhos,
sem corredores brancos,
sem palavras de sal,
a tua luz tecendo um chão de seda.

Cresço até ao cimo dos lugares,
uma lágrima solta ou um sorriso,
os meus passos à escuta
no caminho antigo das searas.


#20. Peter Segley, obra não-fragmentada.

sábado, agosto 04, 2007

Chão

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Deixa a erva crescer

à volta dos teus passos,

desenha devagar o teu chão

e caminha em silêncio.


Abram-se as tuas mãos

como se fossem asas sobre as serras
,
soltem-se os teus dedos

nas páginas dos livros que cintilam

no cimo do mar.


#19. Lourdes Castro, fragmento de prova heliográfica.

sexta-feira, agosto 03, 2007

Vento

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Aquelas tardes
nasciam do vento
e eu pensava guardá-las para cobrir os ombros
ou atravessar as ruas,

porque o vento conversava com as árvores

e os teus olhos brilhavam

para os meus.


Queria que o riso crescesse

por causa da memória do ar

e do teu rosto

ao de leve na luz.


#18. Ângelo de Sousa, fragmento de pintura.