quarta-feira, outubro 28, 2009

Sopro

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Às vezes não se sabe
o que é longe, o que é perto
que diferença faz
se as estradas parecem infinitas
se os muros
parecem encostados
aos espaços que se abriram
nos teus olhos.
Que diferença faz
se as árvores soltas à vastidão do vento
ainda transfiguram o rumor do ar,
esse som da infância imaginada.
De que serve saber
se o vulto que se move sobre os muros
convoca em ti o verdadeiro olhar
como se pressentisse o esquecimento.

Talvez seja apenas um vulto casual
atravessando a tua tarde pobre.


#43. Giovanni Bellini, fragmento de pintura.

5 comentários:

bettips disse...

Certos olhares
certas palavras
transtornam (transformam).
Grata pelo elogio, o Douro é um depósito de emoções (como o vinho).
Muros ou palavras, a alma é habitante dos poetas.
Abç

Victor L. disse...

Obrigado, Bettips.

Kate K3 disse...

Desculpa a invasão, mas não consegui ignorar este texto...
A infância que parece tão perto e tão longe...e que faz tanta falta...e a confusão que muita vez se sente,as tonturas...A falta ou o excesso de algo...Existência humana é tão preenchida e tão vazia...
Lindo texto...Abraço

Anónimo disse...

POETA,

Já merecemos mais um poema.
Sempre atentos/as.

Layne disse...

Apenas o coração pode dar a exata medida do que é distante e perto. Muitas vezes estamos perto e distantes, ou distante e tão perto! Lindo poema! Abraços!